“Descendentes de Imigrantes: entre três mundos”
A Fundação Oriente organiza pelo 12º ano consecutivo os “Encontros da Arrábida 2006”. Um dos painéis será subordinado ao tema “Descendentes de Imigrantes: entre três mundos” e terá como coordenador o Dr. Rui Marques (Alto-comissário para a Imigração e Minorias Étnicas). O painel decorrerá no Convento da Arrábida, em 13 e 14 Julho.
Poderão, caso tenham interesse, proceder às vossas inscrições em:
http://www.foriente.pt/pt/encontros/en06_inscr.asp
A integração dos descendentes de imigrantes constitui uma das principais dificuldades que as sociedades de acolhimento encontram. Este aspecto deveria merecer uma atenção prioritária das políticas públicas, pois aí se gera um dos maiores insucessos da integração das famílias imigrantes. Sendo em Portugal relativamente recente o fenómeno de uma imigração com dimensão relevante, temos ainda pouca experiência na gestão das questões que a integração dos descendentes de imigrantes coloca e só as comunidades mais antigas – maioritariamente de origem africana – estão nessa fase do ciclo migratório.
Apesar da discussão legítima se se deve falar de segunda e terceira gerações de imigrantes, no pressuposto que esse abordagem pode ser perversa por cristalizar um estatuto que perdura no tempo, mesmo para aqueles que não imigraram – já nasceram no país de acolhimento – é indesmentível que este grupo de crianças e jovens tem vulnerabilidades especiais que devem ser consideradas, tendo em vista a sua redução e anulação. Não defendemos, no entanto, que essa anulação de desvantagens arraste consigo a eliminação da sua memória cultural específica. A boa integração exige, em simultâneo com a plena cidadania e exercício da igualdade, que estas crianças e jovens possam manter, com orgulho, as suas origens sem as enterrar.
É evidente, no entanto, que esse equilíbrio é difícil e da sua ausência decorrem algumas das mais tipificadas dificuldades de integração existentes. Entre a pertença à pátria/cultura dos seus progenitores (com a qual têm muitas vezes laços ténues) e a pertença à terra onde nasceram ou para a qual vieram muito novos (mas que não os reconhece como seus), estabelece-se uma tensão difícil de resolver que é ainda agravada pela crescente filiação a outra referência, sobretudo cultural, de um universo terceiro, distinto do dos progenitores ou da de acolhimento. Este apelo a uma potencial tripla filiação pode levar a um conflito identitário que se reflecte de diferentes formas, seja em movimentos de desintegração social, em relação à sociedade de acolhimento, seja em recusa de adesão – ou noutros casos de sobreadesão - à cultura dos progenitores ou ainda através da assunção radicalizada de subculturas importadas.
Reflectir sobre estes três mundos de pertença e de identidade para os descendentes de imigrantes constitui o desafio central deste encontro.
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